Caderno #01

As Novas Fases e o Medo do Recomeço

Mudanças fazem parte da vida. Algumas chegam devagar, quase imperceptíveis, como as estações do ano. Outras irrompem de forma abrupta, como uma tempestade inesperada. Trocar de emprego, mudar de cidade, encerrar um relacionamento ou iniciar um novo projeto: cada uma dessas transições marca o fim de um ciclo e o início de outro. E, por mais naturais que sejam, elas carregam consigo um peso emocional que, muitas vezes, subestimamos.

Vivemos uma era em que a exposição das nossas escolhas é quase inevitável. Redes sociais transformam transições pessoais em narrativas públicas — e, com isso, a comparação constante se torna um desafio extra. Quando vemos apenas os momentos de vitória na vida dos outros, tendemos a acreditar que as mudanças deles foram simples, rápidas e sem falhas. É uma ilusão que intensifica a nossa própria insegurança, fazendo parecer que, se sentimos medo ou dúvida, estamos “errando” no processo.

O medo do recomeço não é sinal de fraqueza; é um reflexo da nossa necessidade de segurança. A mente humana busca previsibilidade. Ao encerrar um ciclo, perdemos, ainda que temporariamente, o chão conhecido. Esse intervalo entre o que foi e o que ainda não é pode ser desconfortável — e, em alguns casos, paralisante. Mas é justamente nesse espaço que as oportunidades mais transformadoras podem surgir.

Uma das armadilhas mais comuns nesse processo é acreditar que precisamos ter todas as respostas antes de dar o primeiro passo. Esse perfeccionismo, travestido de prudência, pode nos manter presos em situações que já não nos servem, apenas porque o novo ainda não se apresenta com clareza. É como esperar que o céu esteja totalmente limpo para decidir sair de casa — quando, na vida real, quase sempre caminhamos sob nuvens parciais.

O que está fora do nosso controle nessas transições é vasto: a reação dos outros, a velocidade com que novas portas se abrem, o reconhecimento imediato do valor de nossas escolhas. O que podemos ajustar, porém, é igualmente poderoso. Podemos estabelecer pequenos objetivos que nos mantenham em movimento, mesmo sem enxergar todo o caminho. Podemos criar uma rede de apoio que nos ofereça escuta e encorajamento. Podemos, sobretudo, aprender a lidar com o desconforto como parte inevitável do crescimento.

Aceitar que cada ciclo de mudança traz consigo um período de instabilidade é libertador. Significa não exigir de si a serenidade de quem já está na reta final, quando ainda estamos no início. Significa dar-se permissão para sentir medo, mas seguir mesmo assim. Essa coragem não é a ausência de insegurança, mas a decisão consciente de que a vida que queremos construir vale o risco.

Um ponto crucial é lembrar que recomeçar não é começar do zero. Levamos conosco a bagagem de tudo o que já vivemos — experiências, habilidades, lições, valores. Essa bagagem é o que nos permite entrar em novas fases mais preparados do que antes, ainda que as circunstâncias sejam inéditas. Quando entendemos isso, o recomeço deixa de ser um salto no escuro e se transforma em uma travessia com recursos internos sólidos.

Para quem vive esse drama agora, talvez o maior conselho seja: respeite o seu ritmo. Algumas pessoas atravessam mudanças como quem troca de roupa; outras precisam de mais tempo para se adaptar ao tecido da nova vida. Nenhuma das duas formas é mais “certa” que a outra. O importante é que o processo seja seu, e não uma corrida ditada por expectativas externas.

As novas fases podem assustar, mas também podem ser o espaço onde encontramos versões mais inteiras de nós mesmos. Ao invés de perguntar “e se der errado?”, experimente perguntar “e se for melhor do que eu imagino?”. Afinal, cada ciclo encerrado não é apenas um fim — é também um convite para um começo que, mesmo incerto, pode carregar exatamente o que você precisa para florescer.

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